segunda-feira, 27 de maio de 2019

Estudo aponta contaminação da água potável por agrotóxicos nos municípios da Bacia do rio Itabapoana

Um estudo conduzido pela Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye, com base em dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, e divulgado em março deste ano, aponta que um coquetel que mistura cerca de 27 diferentes agrotóxicos foi encontrado na água potável de 1 em cada 4 municípios brasileiros entre 2014 e 2017. 

De acordo com o estudo, "a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país".


Entre os agrotóxicos encontrados em mais de 80% dos testes, cinco são classificados como “prováveis cancerígenos” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis são apontados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que gera diversos problemas à saúde, como a puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias.

Contaminação na Bacia do Itabapoana

A amostragem foi realizada em 6 dos 18 municípios que compõem a bacia do Itabapoana e identificou a contaminação em 5 deles: Campos dos Goytacazes, Mimoso do Sul, São José do Calçado, Caiana e Caparaó. Porciúncula foi o único município em que as análises foram realizadas e não foram encontrados agrotóxicos na água potável, enquanto nos outros 12 municípios a testagem nunca foi realizada. Confira abaixo a situação dos 5 municípios que apresentaram contaminação:

- Campos dos Goytacazes/RJ


Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, apresentou o maior número de contaminantes dos municípios da bacia: foram detectados 27 agrotóxicos na água potável, sendo que 11 deles estão associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos: Alaclor, Atrazina, Carbendaim, Clordano, DDT+DDD+DDE, Diuron, Glifosato, Lindano, Mancozebe, Permetrina e Trifluralina.

- São José do Calçado/ES


Em São José do Calçado, localizado no sul do Espírito Santo, foram encontrados 24 agrotóxicos, dos quais 9 são associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos: Alaclor, Atrazina, Clordano, Diuron, Glifosato, Lindano, Mancozebe, Permetrina e Trifluralina.

- Mimoso do Sul/ES


Em Mimoso do Sul, também localizado no sul do Espírito Santo, foram encontrados 24 agrotóxicos, sendo 10 deles associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos: Alaclor, Carbendaim, Clordano, DDT+DDD+DDE, Diuron, Glifosato, Lindano, Mancozebe, Permetrina e Trifluralina.

- Caparaó/MG


Em Caparaó, localizado na Zona da Mata mineira, foram encontrados 2 agrotóxicos e apenas 1 está associado a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos: Alaclor.

- Caiana/MG


Em Caiana, também localizado na Zona da Mata mineira, foi encontrado apenas 1 agrotóxico, que está associado a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos: Alaclor.

- Porciúncula/RJ


Dos municípios que realizaram a análise da água potável, Porciúncula, localizado no noroeste fluminense, foi o único que não identificou contaminação.

A situação pode ser ainda mais grave, já que em doze municípios da bacia as análises nunca foram realizadas! São eles: Alto Caparaó e Espera Feliz, em Minas Gerais; Bom Jesus do Itabapoana,  Varre-Sai e São Francisco do Itabapoana, no Rio de Janeiro; e Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Bom Jesus do Norte, Apiacá, Muqui e Presidente Kennedy, no Espírito Santo.

Outro fator de preocupação se deve ao posicionamento favorável do novo governo sobre o uso e liberação destas substâncias. Em apenas 5 meses, 197 agrotóxicos foram autorizados para comercialização no Brasil. Vale ressaltar que alguns deles são proibidos em países da União Européia e nos Estados Unidos, devido ao seu alto risco de causar doenças, como o câncer, por exemplo.

Para mais informações, acesse:

- Mapa dos agrotóxicos na água, clique aqui.

- Reportagem “Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios", clique aqui.

- Reportagem "Conheça os 27 agrotóxicos encontrados na água que abastece as cidades do Brasil", clique aqui.